Se você participar de alguma investigação de acidente ou até mesmo se tiver uma conversa despretensiosa com algum motorista envolvido em um acidente vai perceber que em todos os casos, fatores relacionados a saúde mental vão aparecer entre as principais causas.

Pesquisas da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) já apontaram que problemas de saúde de motoristas (incluindo aspectos mentais) causaram centenas de milhares de acidentes nas rodovias brasileiras em períodos recentes (mais de 280 mil acidentes desde 2014, segundo um dado de 2020).

Mas, você sabe o que é saúde mental?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar em que o indivíduo consegue utilizar suas habilidades, lidar com o estresse normal da vida, ser produtivo e contribuir para a sua comunidade. A saúde mental então não se limita à ausência de doenças mentais, mas envolve um estado completo de bem-estar físico, mental e social.

E daí, percebendo que é algo mais complexo, podemos pensar em outras duas perguntas importantes: Quais são as doenças mentais que afetam principalmente os motoristas e como fazer para prevenir.

Doenças mentais

A profissão de motorista, é frequentemente citada como uma das mais estressantes. E o stress é fator determinante para o desenvolvimento de várias doenças mentais.

No quadro a seguir, veja quais são as principais condições, as causas, riscos e sintomas.

Condição Principais Causas (Contexto Motorista) Riscos Associados à Profissão Sintomas Comuns
Ansiedade – Pressão por prazos e metas: Chegar no horário, cumprir rotas.

– Trânsito intenso e imprevisível: Congestionamentos, acidentes, motoristas imprudentes.

– Insegurança nas estradas: Risco de roubos de carga, assaltos, acidentes.

– Responsabilidade pela carga/passageiros: Medo de falhar ou de causar danos.

– Isolamento social (caminhoneiros): Longe da família e amigos por longos períodos.

– Acidentes de trânsito: Devido à distração, impulsividade, reações exageradas.

– Problemas cardiovasculares: Hipertensão, taquicardia.

– Distúrbios do sono: Insônia, sono fragmentado.

– Uso de substâncias: Álcool, sedativos para “acalmar”.

– Dificuldade de concentração e tomada de decisão.

– Preocupação excessiva e constante.

– Inquietação, nervosismo, sensação de “estar no limite”. – Irritabilidade.

– Dificuldade de concentração.

– Tensão muscular, dores de cabeça.

– Insônia ou sono agitado. – Taquicardia, sudorese, tremores.

– Medo irracional de situações específicas (ex: dirigir em túneis, pontes).

Depressão – Fadiga crônica e privação de sono: Jornadas exaustivas sem descanso adequado.

– Solidão e distanciamento familiar: Impacto nas relações pessoais.

– Desvalorização profissional: Baixa remuneração, falta de reconhecimento.

– Estresse financeiro: Dificuldades econômicas.

– Eventos traumáticos: Acidentes graves, assaltos.

– Condições de trabalho precárias: Falta de estrutura, segurança.

– Acidentes de trânsito: Devido à lentidão de raciocínio, desatenção, sonolência.

– Abuso de substâncias: Álcool, drogas para “fugir” da dor emocional.

– Piora de doenças físicas: Diabetes, hipertensão.

– Isolamento social ainda maior. – Pensamentos suicidas ou automutilação.

– Tristeza profunda e persistente.

– Perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades.

– Fadiga e falta de energia.

– Alterações no apetite (perda ou ganho de peso).

– Distúrbios do sono (insônia ou hipersonia).

– Sentimentos de inutilidade, culpa ou baixa autoestima.

– Dificuldade de concentração e tomada de decisão.

– Pensamentos de morte ou suicídio.

Burnout (Esgotamento Profissional) – Sobrecarga de trabalho: Excesso de horas, metas inatingíveis.

– Falta de controle sobre o trabalho: Pouca autonomia sobre horários, rotas, condições.

– Recompensa insuficiente: Financeira ou de reconhecimento.

– Valores conflitantes: Exigências da empresa vs. valores pessoais.

– Falta de apoio social: Da empresa, colegas ou família.

– Ambiente de trabalho tóxico: Pressão constante, assédio.

– Queda de produtividade e erros no trabalho.

– Aumento do absenteísmo e presenteísmo.

– Conflitos interpessoais: Com colegas, superiores, passageiros.

– Problemas de saúde física: Dores crônicas, problemas gastrointestinais, imunidade baixa.

– Desenvolvimento de ansiedade e depressão. – Abuso de substâncias.

– Exaustão física e mental extrema.

– Cinismo e desapego em relação ao trabalho.

– Sentimento de ineficácia e falta de realização.

– Irritabilidade e impaciência.

– Dificuldade para se concentrar e memorizar.

– Dores de cabeça, problemas digestivos, insônia.

– Distanciamento social e isolamento.

– Sentimento de que “não vale a pena”.

Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) – Exposição a eventos traumáticos: Acidentes graves (com vítimas), assaltos violentos, sequestros, presenciar mortes.

– Ameaça à vida ou integridade física: Própria ou de outros.

– Experiências repetidas de violência: Em rotas de alto risco.

– Flashbacks e pesadelos: Podem ocorrer durante a condução, causando perda de controle do veículo.

– Reatividade aumentada: Sobressaltos, irritabilidade, o que pode levar a reações exageradas no trânsito.

– Evitação de situações: Rotas, locais ou mesmo dirigir, impactando a capacidade de trabalho.

– Abuso de substâncias: Para “anestesiar” a dor emocional.

– Dificuldade de relacionamento e isolamento.

– Revivescência do trauma: Flashbacks, pesadelos vívidos, reações físicas intensas ao lembrar do evento.

– Evitação: De pensamentos, sentimentos, pessoas, lugares ou atividades que lembrem o trauma.

– Alterações negativas no humor e cognição: Sentimentos de culpa, vergonha, desinteresse, dificuldade de memória, visão negativa de si ou do mundo.

– Hipersensibilidade e reatividade: Dificuldade para dormir, irritabilidade, explosões de raiva, dificuldade de concentração, estado de alerta constante, sobressaltos.

 

Como prevenir?

A prevenção deve ser sempre estimulada a ser uma ação conjunta entre empresa, gestores e motoristas, pois cada um desempenha um papel importante na criação de um ambiente saudável.

 O papel da empresa

  • Implementar jornadas de trabalho humanizadas, com pausas adequadas e respeitando os limites para evitar a exaustão;
  • Oferecer condições de trabalho seguras e confortáveis com veículos em bom estado de conservação, manutenção e preferencialmente investir em tecnologias de segurança e proporcionar infraestrutura de apoio nas rotas;
  • Promover programas de saúde e bem-estar, oferecendo planos de saúde, palestras de conscientização, apoio psicológico e treinamentos para capacitar líderes e motoristas na gestão do tempo, manejo de stress e autocuidado;
  • Fomentar a cultura de apoio e reconhecimento, estimulando a equipe a criar um ambiente saudável, respeitoso onde a comunicação pode e deve acontecer de forma aberta e livre de assédio.

O papel dos líderes

  • Praticar uma liderança empática e atenta, desenvolvendo uma escuta ativa e uma observação aos sinais e sintomas, sendo acessível e aberto ao diálogo, compreendendo as limitações e potencialidades de cada um;
  • Gerenciar as cargas de trabalho, distribuindo de forma equitativa, monitorando o cumprimento das horas de trabalho e descanso e principalmente fornecendo feedbacks construtivos para os colaboradores;
  • Promover o apoio social garantindo um ambiente de confiança, cumplicidade e suporte entre os colegas, intervindo de forma rápida e eficiente nos possíveis conflitos ou problemas que afetem o bem-estar dos colaboradores.

O papel do motorista

  • Promover o autoconhecimento, a auto-observação, reconhecendo os próprios limites e os sinais de fadiga, stress, ansiedade, estando também atento as mudanças de humor, sono, apetite e níveis de energia;
  • Ter um cuidado pessoal ativo, priorizando hábitos saudáveis, sono de qualidade e evitando o uso de álcool e outras substâncias que só mascaram e agravam os problemas;
  • Buscar por ajuda profissional sem medo e vergonha, sempre que sentir necessidade de cuidar da saúde mental;
  • Comunicar-se com a gestão sempre que sentir dificuldades ou identificar sinais que não está bem, para buscarem soluções em conjunto;
  • Cultivar relações sociais saudáveis e positivas, desenvolver hobbies ou atividades de lazer que ajudem a relaxar e descontrair.

A prevenção do adoecimento mental dos motoristas é um investimento na segurança, na produtividade e, acima de tudo, na qualidade de vida desses profissionais.  Ao unir esforços, empresas, gestão e motoristas podem construir um ambiente de trabalho mais saudável e promover uma cultura de bem-estar integral.

Tatiana Vasconcelos

Psicóloga clínica e organizacional, consultora de RH, professora universitária, treinadora e palestrante.

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